A internet ainda é legal?

Home page da Mandic, em 21 dezembro de 1996. Umas das primeias BBSs que se tornaram portais da internet.

(TEXTO ORIGINALMENTE PUBLICADO EM 23/12/2014)

Depois de mais de 20 anos conectando-se com a vida alheia, me fiz essa pergunta alguns poucos dias antes de escrever o primeiro posto do S.O.S. Nave Mãe. Será que a internet ainda é legal e democrática? Não é um saudosismo, já que sou da época pré-internet com as BBSs e o Vídeo Texto da TELESP e tecnologicamente a situação era infinitamente diferente do que é hoje, tudo era muito mais difícil e feito com as próprias mãos.

Há muito, muito tempo atrás, numa conexão muito distante…

Na primeira infância da internet comercial no Brasil, já após 1995, a situação continuou com um acesso não muito democrático. Só existia conexão discada e a cobrança de pulsos na conta de telefone era um grande problema. Nesse período as coisas eram garimpadas na internet com muita dificuldade e, sendo bem honesto, o ambiente não era tão amigável como hoje em dia.

Entretanto, no final dos anos 90 havia uma ideia de que a internet era o reduto dos excluídos, dos revolucionários, onde qualquer um podia dizer e fazer o que quisesse. Qualquer um podia ter uma página no Geocities e se expressar da forma como vem entendesse. Por uma ironia do destino, 10 anos após a compra pelo Yahoo!, um dos mais antigos sites de busca da web, do serviço gratuito de hospedagem, as cidades e ruas de Geocities foram apagadas dos servidores. Ao apagar o Geocities perdeu-se o registro de como se entendia que uma página de web deveria ser, os conceitos, as tipologias, as imagens, os recursos. É como se tivéssemos hoje acesso a gravações dos primeiros anos da televisão brasileira, que era ao vivo, e puséssemos fogo nesse arquivo, só para ganharmos mais uma salinha a máquina de café da firma seria instalada.

Voltando ao final dos anos 90 e inícios dos anos 2000, onde a coisa era legal, surgiu algo que mudaria tudo dali pra frente: o Napster. Trata-se de algo simples, a troca de músicas entres pessoas do mundo todo através de um programa que permitia que os usuários acessassem os computadores um do outro com o objetivo de fazer o download de arquivos mp3. Isso realmente conectou culturas, trocou experiências e, acima de tudo, mexeu com quem não estava mexendo com a internet.

Sad But True

Metallica e Madona, contestadores da moral e bons costumes de seu tempo se tornaram aqueles vizinhos rabugentos que reclamam do biquíni da menina que passa na rua. Assumiram o papel de porta vozes do não ao Napster e, junto com as gravadoras buscaram o seu fim. Vendo que os usuários de internet realmente amavam a ideia da troca de músicas e evitando os problemas legais a Apple descobriu uma forma de ganhar dinheiro e passou a vender músicas a um preço mais barato que as gravadoras. Para colaborar com o consumo da música, um aparelho foi lançado e mudou o consumo na comunicação: o iPod, o avô do iPhone.

Tudo que existia antes do Napster, ou nessa época, era feito por pessoas que não sabiam ao certo como viver daquilo mas que queriam viver naquilo. Todos agora podiam trocar cultura, informações, e todos podiam falar. Na mesma época surgiram os blogs, os fotologs, vlogs e um monte de logs que deram liberdade de conteúdo e de estilo para quem quisesse se lançar nos mares da web. Somente depois veio aquilo que tenta agora ser a internet dentro da internet: O Facebook.

O Facebook é a coisa chata da internet, decidindo o que é moralmente certo, quais notícias chegarão a sua linha do tempo. O Facebook está tirando a criatividade, a contestação nos padrões de informação com seus modelos de páginas e de conteúdo. É a antítese do Geocities. Agora tudo tem que ter uma versão pro Facebook, uma versão internet comportada, internet que não questiona, internet de quem não sabe nadar.

http://content.time.com/time/business/article/0,8599,1936645,00.html

http://reocities.com/

http://pt.wikipedia.org/wiki/GeoCities

http://pt.wikipedia.org/wiki/Napster

http://s2.cdn.memeburn.com/wp-content/uploads/2013/01/Napster.jpg

http://freshspectrum.com/wp-content/uploads/2012/04/Geocities.png

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